Uma inovação desenvolvida pela química brasileira Lívia Eberlin está ajudando a transformar a maneira como cirurgias oncológicas são realizadas, aproximando o diagnóstico em tempo real da rotina dos centros cirúrgicos. A tecnologia, conhecida como MasSpec Pen e apelidada de “caneta que detecta câncer”, permite diferenciar, em segundos, tecidos saudáveis de áreas com células tumorais durante o ato operatório, aumentando a precisão dos procedimentos e a segurança dos pacientes.
Caneta que “lê” o câncer em segundos
A MasSpec Pen é um dispositivo portátil que se conecta a um espectrômetro de massas e atua como uma espécie de “sensor químico” de alta precisão. Em contato com o local suspeito, a ponta da caneta libera uma microgota de água estéril, que “captura” moléculas do tecido; em seguida, esse material é analisado pelo equipamento, que identifica a assinatura molecular e indica se aquela área é compatível com tecido saudável ou cancerígeno.
Esse processo leva apenas alguns segundos, permitindo que o cirurgião, ainda na sala de cirurgia, verifique se o tumor foi completamente removido ou se é necessário ampliar a margem de ressecção. Hoje, o método padrão envolve retirar fragmentos, enviá-los ao laboratório e aguardar a análise em lâmina, procedimento que pode levar dezenas de minutos e prolongar o tempo de cirurgia.
Estudo pioneiro no Brasil
O Hospital Israelita Albert Einstein conduz o primeiro estudo com a MasSpec Pen fora dos Estados Unidos, avaliando o uso da tecnologia em pacientes com tumores de pulmão e de tireoide. A pesquisa é coordenada por equipes de imuno-oncologia e busca validar a precisão da caneta comparando os perfis moleculares de pacientes brasileiros com os padrões já descritos em estudos internacionais.
Nessa fase, o objetivo é confirmar se a caneta mantém alta sensibilidade e especificidade para distinguir tecidos tumorais de tecidos normais em tempo real. Os resultados iniciais têm mostrado boa concordância com os dados obtidos nos EUA, reforçando o potencial da ferramenta para ser incorporada à prática clínica após a conclusão dos ensaios e das etapas regulatórias.
Rumo a tratamentos mais personalizados
Além de indicar se o tecido é ou não cancerígeno, pesquisadores já estudam uma nova fronteira para a MasSpec Pen: avaliar, no mesmo ato cirúrgico, características da resposta imunológica do tumor e do microambiente ao seu redor. A ideia é que, no futuro, a caneta ajude a identificar biomarcadores que orientem a escolha de terapias, como imunoterapia ou tratamentos alvo, logo após a cirurgia.
Se essa capacidade for comprovada, o paciente poderá sair do centro cirúrgico com informações prognósticas mais detalhadas e um plano terapêutico melhor direcionado, encurtando o tempo entre o diagnóstico, a cirurgia e a definição do tratamento complementar. Isso coloca a tecnologia no centro da tendência global de medicina de precisão em oncologia.
Brasil na vanguarda da tecnologia médica
Criada por uma cientista brasileira e testada em um dos principais hospitais do país, a MasSpec Pen simboliza o protagonismo do Brasil em pesquisa e inovação em saúde. A expectativa de especialistas é que, após validação, o dispositivo possa chegar tanto a grandes centros quanto, no futuro, à rede pública, ajudando a reduzir o número de cirurgias repetidas, preservar mais tecido saudável e tornar os procedimentos mais rápidos e seguros.
Esse avanço reforça o papel da ciência brasileira no desenvolvimento de soluções de alto impacto global e abre caminho para que o país se consolide como referência na aplicação de tecnologias de diagnóstico em tempo real na medicina.
Redação Portal Guavira

