sexta-feira, 27 junho, 2025
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China implanta chips cerebrais em 3 pacientes e planeja 13 até 2025

Em um salto tecnológico que promete rivalizar com iniciativas como a Neuralink de Elon Musk, cientistas chineses anunciaram, em 31 de março de 2025, que já implantaram chips cerebrais em três pacientes e planejam alcançar um total de 13 até o final do ano. O projeto, conduzido pelo Instituto Chinês para Pesquisa Cerebral (CIBR) em parceria com a estatal NeuCyber NeuroTech, utiliza o chip Beinao No. 1, uma interface cérebro-computador (BCI, na sigla em inglês) semissiva que permite a comunicação direta entre o cérebro e dispositivos externos. A iniciativa visa transformar a vida de pacientes com paralisia, oferecendo novas formas de interação com o mundo, e posiciona a China como um competidor de peso no campo das neurotecnologias.

O Beinao No. 1, desenvolvido pela NeuCyber, é um chip semissivo que, ao contrário dos implantes invasivos da Neuralink, é colocado na superfície do cérebro, reduzindo riscos de danos aos tecidos cerebrais e complicações pós-cirúrgicas. Em vídeos divulgados pela mídia estatal chinesa, pacientes com paralisia utilizaram o chip para controlar um braço robótico, realizar tarefas como derramar água em um copo e transmitir pensamentos para uma tela de computador. “Nosso objetivo é ajudar pacientes com diferentes tipos de paralisia a recuperar autonomia”, afirmou Luo Minmin, diretor do CIBR e cientista-chefe da NeuCyber, durante o Fórum Zhongguancun, em Pequim. Ele destacou que o projeto não tem vínculos com o setor militar e foca em aplicações terapêuticas.

A tecnologia, apresentada pela primeira vez em abril de 2024, já demonstra resultados promissores. Os três pacientes implantados no último mês, segundo a Reuters, estão em recuperação e exibem sinais de atividade neural detectada pelo chip. A meta de implantar mais 10 chips até dezembro de 2025 visa acelerar a coleta de dados clínicos, potencialmente superando a Neuralink, que implantou chips em três pacientes até o momento, e a Synchron, líder global com 10 pacientes. “Estamos em conversas com investidores, mas buscamos parceiros com visão de longo prazo, não focados em lucro rápido”, disse Luo, enfatizando a necessidade de avanços graduais na tecnologia BCI.

A iniciativa chinesa reflete um esforço nacional para liderar o setor de interfaces cérebro-computador, apoiado por investimentos robustos. Em 2024, o governo chinês criou um laboratório com 60 pesquisadores dedicado exclusivamente a BCIs, segundo a South China Morning Post. Além disso, a Administração Nacional de Segurança em Saúde da China anunciou categorias de faturamento para implantes de BCI, sinalizando a integração da tecnologia ao sistema de saúde. A NeuCyber, controlada pela Zhongguancun Development Corporation, que gerou mais de 9 bilhões de yuans (cerca de R$ 7 bilhões) em 2023, planeja iniciar ensaios formais com 50 pacientes até 2026, conforme reportado pelo Gizmodo.

Apesar do entusiasmo, a tecnologia levanta preocupações éticas e de segurança. Críticos, como o neurocientista Mikhail Lebedev, da Universidade de Duke, alertam para o risco de manipulação de dados cerebrais, que poderiam ser usados para vigilância ou até para induzir comportamentos, como sugerido em reportagens do Domino Theory. A falta de transparência em alguns projetos chineses também preocupa especialistas, que defendem a necessidade de regulamentações globais para proteger a privacidade e a autonomia dos pacientes. “A tecnologia pode revolucionar a medicina, mas sem diretrizes claras, há riscos de abuso”, afirmou Rafael Yuste, neurocientista da Universidade de Columbia, em um artigo da YIP Institute Technology Policy.

O avanço da China no campo das BCIs ocorre em um momento de competição global acirrada. Enquanto a Neuralink foca em implantes invasivos para maximizar a qualidade do sinal neural, a abordagem semissiva chinesa prioriza a segurança, embora com menor resolução de dados. A Synchron, apoiada por Jeff Bezos e Bill Gates, também utiliza uma técnica menos invasiva, implantando dispositivos via veia jugular. No entanto, a velocidade dos testes chineses, aliados ao suporte estatal, pode colocar o país à frente na corrida por dados clínicos, fundamentais para o desenvolvimento comercial da tecnologia.

A pesquisa chinesa abre portas para aplicações além da saúde, como realidade virtual e veículos autônomos, conforme indicado pelo Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação da China. Contudo, o foco imediato permanece na reabilitação de pacientes com condições como tetraplegia e esclerose lateral amiotrófica (ELA). À medida que a NeuCyber avança, o mundo observa não apenas o potencial transformador dos implantes cerebrais, mas também os desafios éticos que acompanham essa nova fronteira da neurociência.


Fonte: https://www.reuters.com/

Por Andre Estoduto – Redação Portal Guavira

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