Campo Grande, 28 de abril de 2025 – A análise semanal da Central Internacional de Análises Econômicas e de Estudos de Mercado Agropecuário (Ceema), publicada na quinta-feira (24), revelou um recuo nos preços da soja no Brasil durante a semana de 18 a 24 de abril, impactado pela valorização do dólar, que alcançou R$ 5,67 no dia 24. A pressão de uma safra recorde nacional, negociações comerciais entre Estados Unidos e China, e o aumento nos custos de produção para a safra 2025/26 trazem desafios adicionais aos produtores, especialmente em Mato Grosso do Sul, onde o agronegócio é um pilar econômico.
Contexto de Mercado
O relatório da Ceema destacou que a média de preços da soja no Rio Grande do Sul ficou em R$ 127,24 por saca, mas as principais praças do estado registraram negociações em torno de R$ 123,00. Em outras regiões do Brasil, os valores oscilaram entre R$ 106,00 e R$ 120,50 por saca. A safra recorde nacional, apesar das perdas no Rio Grande do Sul devido a condições climáticas adversas, contribuiu para a retração dos preços internos. Além disso, a possibilidade de um acordo comercial entre Estados Unidos e China impactou negativamente os prêmios nos portos brasileiros, como Paranaguá e Santos, intensificando a pressão sobre as cotações.
A valorização do dólar, que atingiu R$ 5,67 no dia 24, segundo o Banco Central, teve um efeito paradoxal: embora favoreça as exportações, reduz o poder de compra dos produtores para insumos importados, como fertilizantes, que representam 80% do consumo nacional, conforme o Ministério da Agricultura. “O desafio maior aos produtores nacionais é cuidar das margens de ganho para a safra 2025/26, especialmente frente à alta nos custos de produção,” alertou a Ceema em seu relatório.
Situação em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul
Em Mato Grosso, o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) estimou que o custo da safra 2025/26 de soja será 3,75% superior ao da temporada anterior, com o custeio projetado em R$ 4.118,61 por hectare, segundo o Projeto CPA-MT. Esse aumento reflete a alta nos preços de insumos, agravada pela modalidade de barter – troca de grãos por fertilizantes –, amplamente utilizada pelos produtores. Dados de março mostram que foram necessárias 25 sacas de soja para adquirir uma tonelada de Super Simples (SSP) e 45,3 sacas para uma tonelada de MAP, aumentos de 30% e 18,2%, respectivamente, em relação a 2024.
Em Mato Grosso do Sul, que contribui com 12 milhões de toneladas de soja na safra 2024/25 (IBGE), os produtores enfrentam desafios semelhantes. A relação de troca entre soja e fertilizantes é a segunda mais desfavorável em 15 anos, segundo a Agrinvest Commodities. “O custo nominal da safra 2025/26 será maior. O foco agora é buscar estratégias para melhorar essa relação insumo/preço da soja,” afirmou um analista da Agrinvest ao portal Notícias Agrícolas. Cerca de 50% dos fertilizantes para a próxima safra já foram adquiridos no país, indicando uma corrida para garantir insumos em meio à pressão de preços.
O milho também enfrenta aumento de custos. O custeio para o milho de alta tecnologia em Mato Grosso foi projetado em R$ 3.163,85 por hectare, uma alta de 1,05% em relação a fevereiro, segundo o CPA-MT. Em Mato Grosso do Sul, onde a safrinha de milho é essencial, chuvas recentes de até 278 mm em abril (Climatempo) beneficiaram as lavouras, mas alagamentos em rodovias como a BR-163 dificultam o transporte, impactando os preços.
Exportações em Alta
Apesar da queda nos preços internos, as exportações brasileiras de soja seguem robustas. A Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) estima que o Brasil embarcará 14,3 milhões de toneladas de soja em abril, um crescimento de 6,3% em relação a abril de 2024. Até meados de abril, o ritmo das exportações estava 8,6% acima do ano anterior, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). No acumulado do primeiro trimestre de 2025, o país exportou 26,6 milhões de toneladas de soja, um milhão de toneladas a mais que no mesmo período de 2024.
Para o farelo de soja, a Anec projeta exportações de 2,4 milhões de toneladas em abril. Entre janeiro e março, o Brasil exportou 5,3 milhões de toneladas de farelo, 300 mil toneladas a mais que no primeiro trimestre de 2024. Esses números reforçam a posição do Brasil como líder global no mercado de soja, mas também expõem a dependência de mercados externos, como a China, que absorve 70% das exportações brasileiras, segundo o Cepea.
Impactos e Desafios para os Produtores
O aumento dos custos de produção, aliado à queda nos preços da soja, aperta as margens de lucro dos produtores. Em Mato Grosso do Sul, onde o agronegócio representa 30% do PIB (Famasul), a alta nos custos de fertilizantes e a necessidade de aquisição antecipada via barter criam um cenário de risco. “O sistema de barter pode representar um desafio adicional para equilibrar as despesas da atividade,” destacou o relatório da Ceema. Produtores que não conseguirem ajustar suas estratégias podem enfrentar dificuldades financeiras na próxima safra.
Além disso, o milho, essencial para a rotação de culturas e a alimentação animal, também pressiona os custos da pecuária. Em Mato Grosso do Sul, a produção de frango e suínos, que depende do milho para ração, pode sofrer com o aumento de 1,05% no custeio, impactando cadeias produtivas integradas, como as da Seara e da Lar Cooperativa.
Perspectivas Futuras
O analista da Agrinvest Commodities sugeriu que uma recuperação nos preços da soja poderia aliviar a pressão, mas o cenário para os fertilizantes segue desafiador, com cotações globais pressionadas pela demanda e pela instabilidade geopolítica. A valorização do dólar, embora beneficie as exportações, encarece os insumos, e a possibilidade de acordos comerciais entre EUA e China pode continuar a impactar os prêmios nos portos brasileiros.
Para os produtores de Mato Grosso do Sul, o momento exige planejamento. A safra 2024/25, que alcançou 12 milhões de toneladas de soja no estado (IBGE), consolidou a região como um dos celeiros do país, mas a gestão de custos será crucial para a sustentabilidade do setor. Tecnologias como a agricultura de precisão e a rastreabilidade blockchain, adotadas por empresas como a JBS, podem agregar valor às exportações e melhorar a competitividade.
Um Chamado à Estratégia
A queda nos preços da soja em abril de 2025, somada ao aumento dos custos de produção, é um alerta para os produtores de Mato Grosso do Sul e do Brasil. Acompanhar as cotações em plataformas como Cepea, Imea e Notícias Agrícolas, além de buscar estratégias para otimizar a relação insumo/preço, será essencial para enfrentar os desafios da safra 2025/26. Em um cenário de exportações crescentes, mas margens apertadas, o agronegócio brasileiro precisa de inovação e planejamento para manter sua liderança global.
Por Andre Estoduto – Redação Portal Guavira