A recente decisão dos países da OTAN de ampliar a autorização para que a Ucrânia utilize mísseis ocidentais, como o Storm Shadow britânico, o Taurus alemão e o ATACMS americano, contra alvos em território russo, incluindo Moscou e instalações governamentais, marca um ponto de inflexão na guerra que já dura mais de dois anos. A reação do presidente russo, Vladimir Putin, não poderia ser mais clara: ele declarou que tal escalada será interpretada como um envolvimento direto da OTAN, abrindo a possibilidade de retalições contra os Estados Unidos e nações europeias. Essa retórica eleva o risco de transformar um conflito regional em uma catástrofe global, e é impossível ignorar as implicações dessa aposta perigosa.
A lógica por trás da decisão ocidental parece ser a de enfraquecer a capacidade militar russa, permitindo que a Ucrânia alcance alvos estratégicos profundos em seu território. Mísseis como o ATACMS, com alcance de até 300 quilômetros, e o Storm Shadow, com precisão cirúrgica, dão a Kiev uma vantagem tática significativa. No entanto, essa vantagem vem com um custo potencialmente devastador. Putin não hesitou em vincular essa permissão a uma escalada que poderia envolver respostas militares diretas, possivelmente incluindo armas nucleares, dado o histórico de ameaças com mísseis como o Oreshnik. A retórica de Moscou não é nova, mas a amplitude da autorização atual a torna mais concreta e alarmante.
Do ponto de vista ocidental, o argumento é que a Rússia já escalou o conflito ao usar tropas norte-coreanas e intensificar ataques com drones e mísseis contra a infraestrutura ucraniana. Autorizar ataques retaliatórios seria, portanto, uma resposta proporcional. Contudo, essa narrativa ignora um fato crucial: a Rússia vê qualquer ataque com armas ocidentais em seu solo como um ato de guerra direta por parte da OTAN, e não apenas como apoio a um aliado. A história recente, com respostas como o lançamento do Oreshnik após os primeiros usos de ATACMS, reforça essa percepção. O risco de um erro de cálculo — intencional ou não — cresce exponencialmente.
Minha opinião é que essa escalada é um jogo de xadrez com peças nucleares, e os líderes envolvidos parecem subestimar o tabuleiro. A OTAN, ao expandir as regras de engajamento, pode estar apostando que Putin bluffa, confiando na contenção mútua que prevaleceu durante a Guerra Fria. Mas e se o blefe falhar? A retaliação direta contra alvos na Europa ou nos EUA poderia desencadear uma cadeia de eventos imprevisíveis, especialmente com a transição política nos Estados Unidos, onde o presidente eleito Donald Trump já sinalizou uma abordagem mais isolacionista. Um conflito global não seria apenas uma possibilidade remota, mas uma probabilidade crescente se a diplomacia for abandonada em favor de demonstrações de força.
O mundo assiste a essa dança perigosa com preocupação. A Ucrânia tem o direito de se defender, mas armá-la com mísseis de longo alcance para atingir a Rússia pode cruzar uma linha que nem mesmo os mais otimistas na OTAN conseguem garantir que será segura. É hora de priorizar a negociação, mesmo que dolorosa, sobre a escalada militar. Caso contrário, o que começa como um apoio tático pode acabar como o estopim de uma guerra que nenhum lado deseja — mas que todos podem perder.
Redação Portal Guavira