Neste mês de agosto, a Lei Maria da Penha completa 19 anos, consolidando-se como um marco histórico no enfrentamento à violência contra a mulher no Brasil, com reconhecimento internacional por seu avanço jurídico. Contudo, quase duas décadas após sua criação, o delegado André Matsushita, presidente da Associação dos Delegados de Polícia de Mato Grosso do Sul (Adepol-MS), levanta uma questão crucial: por que ainda é tão difícil identificar um agressor? Em um contexto onde a legislação evoluiu, os desafios sociais e psicológicos continuam a obscurecer a percepção pública sobre quem pode ser o agressor.
Contrariando o estereótipo de um estranho ou figura ameaçadora nas sombras, Matsushita destaca que o perfil real do agressor frequentemente passa despercebido. “O agressor é muitas vezes aquele colega de trabalho que chega no horário, é gentil com todos, leva bolo para a equipe e parece irrepreensível”, observa, ecoando a análise da diretora executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno, durante um recente seminário em Campo Grande. Essa fachada de normalidade complica a identificação, pois a violência doméstica muitas vezes ocorre nos lares, perpetuada por pessoas próximas, como parceiros, familiares ou até amigos.
Matsushita, que também atua como professor de Direito Processual Penal na Insted, aponta para um fenômeno social preocupante: a hibristofilia, uma parafilia caracterizada pela atração por criminosos violentos. “Recebemos mais de 1.500 mensagens de mulheres interessadas após discussões sobre o tema, o que é um sintoma de um adoecimento social. Precisamos falar sobre isso abertamente”, enfatiza o delegado. Ele sugere que a romantização de agressores, amplificada por narrativas midiáticas ou culturais, contribui para a dificuldade em reconhecê-los, perpetuando um ciclo de violência que a Lei Maria da Penha busca quebrar.
Apesar dos avanços legais, como a criação de medidas protetivas e juizados especializados, Matsushita alerta que a falta de conscientização e os padrões culturais de aceitação da violência ainda são barreiras significativas. “A lei é um instrumento poderoso, mas sua efetividade depende de mudarmos a forma como enxergamos e denunciamos esses comportamentos”, conclui. Às 08:06 PM, com Campo Grande sob um céu nublado, o debate sobre os 19 anos da Lei Maria da Penha ganha novo fôlego, impulsionado pela voz de autoridades como Matsushita, que chamam a sociedade a refletir e agir.