Uma farmacêutica norte-americana deu um passo inédito na fronteira entre tecnologia médica e bem-estar animal ao iniciar testes de um medicamento para emagrecimento voltado a gatos domésticos, inspirado nas chamadas “canetas emagrecedoras” usadas em humanos. A Okava Pharmaceuticals, sediada em São Francisco (EUA), lançou o estudo MEOW-1, que avalia um implante subcutâneo de liberação contínua de um agonista de GLP-1, mesma classe de substâncias usada em terapias modernas contra obesidade e diabetes.
Implante de GLP-1 para pets
O MEOW-1 utiliza o dispositivo OKV-119, um pequeno implante colocado sob a pele, capaz de liberar doses controladas do medicamento por até seis meses, sem necessidade de aplicações frequentes. A companhia destaca que se trata do primeiro ensaio clínico de perda de peso com GLP-1 em cães e gatos, voltado inicialmente a cerca de 50 felinos com sobrepeso ou obesidade, acompanhados em um protocolo de seis meses.
Segundo a empresa, os efeitos esperados incluem redução do apetite, menor comportamento de “mendigar” comida, melhora do controle de porções e aumento da disposição, em dinâmica semelhante à observada em humanos tratados com essa classe de medicamentos. Além do emagrecimento, a proposta é atuar de forma preventiva e terapêutica em problemas associados, como diabetes, doenças renais e alterações cardiovasculares, contribuindo para que os animais tenham vida mais longa e saudável.
Obesidade felina em foco
Estudos citados pela companhia indicam que mais de metade dos gatos de estimação nos Estados Unidos apresenta sobrepeso ou obesidade, condição que aumenta o risco de doenças crônicas, reduz mobilidade e encurta a expectativa de vida. Hoje, o tratamento mais comum combina dieta restrita e estímulo à atividade física, mas a adesão costuma ser difícil e os resultados, lentos, o que abre espaço para novas abordagens farmacológicas de apoio ao controle de peso.
Especialistas envolvidos na pesquisa destacam que o uso contínuo de agonistas de GLP-1 pode mimetizar alguns efeitos fisiológicos do jejum, como melhora da sensibilidade à insulina, redução de gordura corporal e maior eficiência metabólica, sem a necessidade de mudanças drásticas na rotina de alimentação. A empresa ressalta que o foco é complementar, e não substituir, os cuidados básicos de manejo, mantendo a relação afetiva entre tutores e animais.
Próximos passos e expansão para cães
Os dados iniciais do estudo MEOW-1 vão subsidiar futuras fases clínicas, bem como pedidos de aprovação regulatória junto às autoridades veterinárias dos Estados Unidos, em cronograma que pode se estender pelos próximos dois a três anos. A Okava já sinalizou que, após a etapa em gatos, pretende expandir a tecnologia para cães, diante da alta prevalência de obesidade também entre animais caninos, o que pode inaugurar uma nova geração de terapias voltadas à saúde cardiometabólica dos pets.

