domingo, 8 junho, 2025
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Dinamarca: ‘Klassen Tid’ transforma escolas com aulas de empatia e bem-estar

Nas escolas públicas da Dinamarca, a prática educacional conhecida como “Klassen Tid” — ou “Hora da Classe” — tem ganhado destaque como um pilar do sistema educacional desde 1993. Realizada semanalmente, essa aula reúne alunos e professores em um espaço informal para discutir o clima da sala, sentimentos, problemas, conflitos e situações do cotidiano escolar. Sem uma estrutura rígida como as disciplinas tradicionais, o “Klassen Tid” é parte integrante do currículo obrigatório, refletindo os valores de igualdade, cooperação e bem-estar coletivo tão caros à cultura dinamarquesa.

A dinâmica é simples, mas poderosa: os alunos são incentivados a expressar preocupações ou emoções, enquanto os colegas praticam a escuta ativa e o professor atua como mediador. O objetivo vai além da resolução imediata de conflitos. A prática busca construir empatia, fortalecer habilidades sociais como cooperação, tolerância e respeito, e promover a inteligência emocional e o senso de comunidade. “É um momento para os jovens aprenderem a se colocar no lugar do outro e resolverem questões de forma pacífica e participativa”, explica a pedagoga Anne Marie Jensen, da Universidade de Copenhague.

Estudos recentes, como os conduzidos pela Universidade de Aarhus, apontam que o “Klassen Tid” contribui significativamente para a redução do bullying e a melhoria do clima escolar. Dados coletados entre 2018 e 2024 mostram uma queda de 32% em incidentes de assédio moral em escolas que adotam a prática regularmente, em comparação com instituições sem essa abordagem. A metodologia também está ligada a uma percepção mais positiva do ambiente escolar por parte de alunos e professores, reforçando o bem-estar coletivo — um dos pilares do modelo educacional nórdico.

Essa abordagem tem raízes profundas na filosofia de ensino nórdica, que prioriza a formação para a vida social em vez de focar exclusivamente no mercado de trabalho. Diferente de sistemas que incentivam a competição individual, a Dinamarca aposta na colaboração como base para o desenvolvimento humano. “Não se trata de criar trabalhadores, mas cidadãos conscientes e empáticos”, destaca Jens Larsen, diretor de uma escola em Aarhus. A ausência de troféus ou prêmios em competições escolares reflete essa cultura, substituída por uma “motivação para melhorar a si mesmo”, como apontam os pedagogos Iben Sandahl e Jessica Alexander, autores do livro Crianças Dinamarquesas.

A Dinamarca, consistentemente classificada entre os países mais felizes do mundo — ocupando o segundo lugar no ranking global de 2024 da ONU —, vê na educação um instrumento de coesão social. O “Klassen Tid” não é apenas uma aula, mas um reflexo de um sistema que valoriza a diversidade e a resolução de conflitos de maneira inclusiva. Enquanto isso, países como Brasil e Reino Unido começam a observar a prática com interesse, considerando adaptações para seus contextos educacionais. Para os dinamarqueses, o segredo da felicidade pode estar, de fato, em ensinar empatia desde cedo.

Informações: https://www.uvm.dk/

Por Andre Estoduto – Redação Portal Guavira

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