Um estudo recente sugere que medicamentos amplamente utilizados para tratar diabetes tipo 2, como Ozempic (semaglutida) e Jardiance (empagliflozina), podem oferecer um benefício inesperado: a redução significativa do risco de Alzheimer e outras formas de demência. Publicado na revista JAMA Neurology, o estudo analisou dados de mais de 92 mil pessoas com diabetes tipo 2 e encontrou uma associação promissora entre o uso dessas drogas e a saúde cerebral, abrindo novas perspectivas para a prevenção de doenças neurodegenerativas.
Uma conexão inesperada
Escrito por Tim Newman e revisado por Jill Seladi-Schulman, Ph.D., o estudo se aprofunda na relação entre diabetes tipo 2 e demência, condições que compartilham fatores fisiológicos como inflamação e resistência à insulina no cérebro. Pessoas com diabetes tipo 2 têm um risco até 50% maior de desenvolver demência, o que levou os cientistas a investigar se medicamentos que controlam o diabetes poderiam também proteger o cérebro. A pesquisa focou em duas classes de medicamentos: os agonistas do receptor GLP-1, como o Ozempic, e os inibidores de SGLT2, como o Jardiance.
Os resultados são animadores. Pacientes que usaram GLP-1RAs, como o Ozempic, apresentaram um risco 33% menor de desenvolver demência, enquanto os que usaram SGLT2is, como o Jardiance, tiveram uma redução ainda mais expressiva, de 43%, em comparação com outros tratamentos antidiabéticos. “O cérebro e o corpo não envelhecem separadamente. Problemas metabólicos como resistência à insulina estão ligados à inflamação e ao estresse oxidativo, que impactam a saúde cerebral”, afirmou William Kapp, MD, especialista em longevidade e CEO da Fountain Life, em entrevista ao Medical News Today.
Mecanismos e implicações
Embora os mecanismos exatos ainda não estejam totalmente claros, os pesquisadores sugerem que essas drogas podem atuar de várias formas. Os agonistas GLP-1, como a semaglutida, têm propriedades neuroprotetoras, reduzindo inflamação e possivelmente ajudando a limpar placas de beta-amiloide – um marcador clássico do Alzheimer – no cérebro. Já os inibidores de SGLT2, como a empagliflozina, ajudam a reduzir o açúcar no sangue ao aumentar sua excreção pela urina, o que pode melhorar a saúde vascular e diminuir o risco de danos cerebrais.
Outro estudo, publicado no Alzheimer’s & Dementia em outubro de 2024, reforça essas descobertas, indicando que a semaglutida pode reduzir o risco de um primeiro diagnóstico de Alzheimer em 40% a 70% em pacientes com diabetes tipo 2, comparado a outros sete medicamentos para diabetes. Essa análise, realizada pela Case Western Reserve University, examinou registros médicos de mais de 1 milhão de pacientes e encontrou resultados consistentes independentemente de gênero, idade ou status de obesidade.
Um futuro promissor, mas com ressalvas
Apesar dos dados promissores, especialistas alertam que mais pesquisas são necessárias. Os estudos atuais são observacionais, o que significa que não provam causalidade. Ensaios clínicos randomizados, considerados o padrão-ouro, estão em andamento para confirmar os efeitos. A Novo Nordisk, fabricante do Ozempic, conduz dois ensaios de fase 3 com mais de 3 mil pacientes para avaliar a semaglutida em pessoas com comprometimento cognitivo leve ou Alzheimer em estágio inicial, com resultados esperados para este ano.
Além disso, os medicamentos não estão isentos de efeitos colaterais. GLP-1RAs podem causar náuseas e constipação, enquanto os inibidores de SGLT2 têm sido associados a infecções urinárias. “Embora os dados sejam encorajadores, esses medicamentos não são uma garantia de prevenção de demência e têm efeitos colaterais que precisam ser considerados”, destacou Tara Spires-Jones, neurocientista da Universidade de Edimburgo, em entrevista ao Newsweek.
Um novo horizonte na saúde cerebral
O impacto potencial desses medicamentos vai além do controle do diabetes. Com o aumento global das taxas de demência – cerca de 771 mil canadenses vivem com a condição, número que deve crescer, segundo a Global News – encontrar formas de reduzir o risco de Alzheimer é uma prioridade. Se confirmados, os benefícios dos GLP-1RAs e SGLT2is podem oferecer uma nova ferramenta para médicos, especialmente para pacientes com diabetes tipo 2 que já enfrentam um risco elevado de declínio cognitivo.
Enquanto os ensaios clínicos avançam, a mensagem é clara: o controle rigoroso do diabetes pode ter impactos muito além da glicemia, potencialmente protegendo o cérebro de condições devastadoras como o Alzheimer. Para quem vive com diabetes tipo 2, discutir essas opções com um médico pode ser um passo importante para um futuro mais saudável – tanto para o corpo quanto para a mente.
Informações: https://www.medicalnewstoday.com/
Por Andre Estoduto – Redação Portal Guavira