segunda-feira, 7 julho, 2025
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Mulheres lideram a medicina no Brasil: demografia médica 2025 revela avanços e desafios

Pela primeira vez na história, as mulheres são maioria entre os médicos no Brasil, representando 50,9% dos profissionais em atividade, de acordo com o estudo Demografia Médica no Brasil 2025, realizado pelo Departamento de Medicina Preventiva da Universidade de São Paulo (USP) em parceria com o Ministério da Saúde e a Associação Médica Brasileira (AMB). O país encerrou 2024 com 635.706 médicos, e a projeção é que esse número alcance 1,15 milhão até 2035. Apesar do crescimento, desigualdades regionais persistem, com capitais concentrando médicos e o Norte e o interior enfrentando escassez, enquanto a idade média dos profissionais tende a diminuir.

Um Marco Histórico para as Mulheres

O avanço feminino na medicina é um marco significativo. Em 2010, as mulheres representavam 41% dos médicos, mas a crescente presença nas graduações – onde hoje são 61,8% dos matriculados – consolidou essa virada. A projeção para 2035 indica que elas serão 56% dos médicos, refletindo uma tendência global de feminização da profissão. No entanto, desafios persistem: as mulheres predominam em apenas 20 das 55 especialidades médicas, com destaque para a dermatologia (80,6%), e enfrentam uma remuneração 36% inferior à dos homens, mesmo com ajustes por carga horária e especialização.

Crescimento Acelerado e Desafios na Distribuição

O Brasil viu o número de médicos dobrar em 12 anos, passando de 304 mil em 2010 para 635.706 em 2024, uma taxa de 2,98 médicos por 1.000 habitantes – superior a países como Estados Unidos e Coreia do Sul, mas abaixo da média da OCDE (3,70). Até 2035, a expectativa é de 5,2 médicos por 1.000 habitantes, com 1,15 milhão de profissionais. Esse crescimento foi impulsionado pela abertura de 225 novos cursos de medicina entre 2014 e 2024, criando 27.921 vagas, além de ampliações em cursos existentes.

Apesar disso, a distribuição permanece desigual. As capitais concentram a maior densidade médica, com o Sul liderando (10,26 médicos por 1.000 habitantes), seguido por Sudeste (7,33) e Nordeste (6,95). No interior, a realidade é outra: o Sudeste tem 2,64 médicos por 1.000 habitantes, enquanto o Norte registra apenas 0,75, com estados como Roraima (0,13) e Amazonas (0,20) enfrentando escassez crítica. Essa disparidade compromete o acesso à saúde em regiões remotas, onde a infraestrutura também é precária.

Especialização e Perfil Etário

Atualmente, 59,1% dos médicos brasileiros são especialistas, um índice abaixo da média da OCDE (62,9%). O Sudeste concentra 55,4% dos especialistas, enquanto o Norte tem apenas 5,9%. Áreas como dermatologia e pediatria atraem mais mulheres, mas especialidades cirúrgicas, como urologia e ortopedia, ainda são dominadas por homens (mais de 90%). A formação de especialistas enfrenta entraves: apenas 8% dos médicos cursavam residência médica em 2024, e 60% dos residentes estão nas capitais, com forte concentração no Sudeste.

A idade média dos médicos também está diminuindo. Em 2024, ela era de 44,6 anos, com mulheres (42 anos) mais jovens que homens (47,4 anos). Até 2035, a projeção é que caia para 40,8 anos, refletindo a entrada de novos profissionais e a expansão do ensino médico. Essa juventude pode trazer dinamismo, mas também levanta preocupações sobre a experiência em um sistema de saúde que exige cada vez mais resolubilidade.

Desafios e Perspectivas

A desigualdade regional é um dos maiores desafios para o futuro da medicina no Brasil. Enquanto o Distrito Federal tem 11,83 médicos por 1.000 habitantes, o Maranhão projeta apenas 2,43 até 2035. A concentração de especialistas na rede privada, onde 72% dos cirurgiões atuam nos dois setores (público e privado), agrava o acesso no SUS, que realiza 70% das apendicectomias, mas apresenta taxas de cirurgias 34,4% inferiores às do setor privado.

O crescimento acelerado do número de médicos é uma conquista, mas sem políticas públicas que incentivem a fixação de profissionais em áreas remotas, como o Norte e o interior, a desigualdade pode se aprofundar. A criação de uma carreira de estado para médicos, como sugerido pela USP, poderia ser uma solução, garantindo melhores condições de trabalho e distribuição mais equitativa. Além disso, o aumento de vagas em residências médicas é essencial para acompanhar a expansão da graduação e formar mais especialistas.

O Brasil vive um momento de transformação na medicina, com as mulheres liderando o caminho e o número de médicos em ascensão. No entanto, para que esse avanço se traduza em saúde de qualidade para todos, é preciso enfrentar as disparidades regionais e de gênero, garantindo que o progresso chegue aonde mais se precisa.

Por Andre Estoduto – Redação Portal Guavira

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