Uma equipe de pesquisadores da Universidade Brown, nos Estados Unidos, anunciou um avanço promissor no tratamento de doenças oculares degenerativas, como a degeneração macular e a retinite pigmentosa, utilizando nanopartículas de ouro. Publicada na revista ACS Nano em março de 2025, a pesquisa demonstra que essas partículas microscópicas, milhares de vezes menores que um fio de cabelo, podem reativar células da retina em camundongos, oferecendo uma alternativa menos invasiva às próteses retinianas tradicionais. A descoberta representa um marco na busca por soluções inovadoras para milhões de pessoas afetadas por perda de visão.
Liderado pela pesquisadora Jiarui Nie, que conduziu o estudo durante seu doutorado na Brown e agora atua no National Institutes of Health (NIH), o projeto utilizou nanorodes de ouro injetados diretamente na retina. Essas nanopartículas, ativadas por luz infravermelha emitida por um laser, geram pequenas quantidades de calor que estimulam células bipolares e ganglionares, responsáveis por transmitir sinais visuais ao cérebro. Como doenças como a degeneração macular afetam principalmente os fotorreceptores (células sensíveis à luz), mas preservam as células bipolares e ganglionares, o método contorna as áreas danificadas, permitindo a restauração parcial da visão.
Os experimentos, realizados em retinas de camundongos e em animais vivos com distúrbios retinianos, mostraram resultados animadores. Após a injeção de uma solução líquida de nanopartículas, os pesquisadores projetaram formas na retina usando luz infravermelha. Sinais de cálcio indicaram que as células bipolares e ganglionares foram ativadas em padrões correspondentes às formas projetadas, e sondas cerebrais confirmaram maior atividade no córtex visual, sugerindo que sinais visuais antes ausentes estavam sendo processados pelo cérebro. “Mostramos que as nanopartículas permanecem estáveis na retina por meses, sem toxicidade significativa, e conseguem estimular o sistema visual. Isso é muito encorajador para aplicações futuras”, afirmou Nie, em comunicado à Brown University.

A técnica propõe um sistema de prótese visual que combina as nanopartículas com óculos ou goggles equipados com câmeras e um laser infravermelho. As câmeras captariam imagens do ambiente, que seriam convertidas em pulsos de laser para estimular as nanopartículas na retina, possibilitando a visão. Diferentemente das próteses retinianas tradicionais, que exigem cirurgia para implantar eletrodos e oferecem resolução limitada (cerca de 60 pixels), a nova abordagem é minimamente invasiva, utilizando uma simples injeção intravítrea, e pode cobrir todo o campo visual, sem interferir na visão residual do paciente.
“Essa é uma nova geração de próteses visuais que não requer cirurgias complexas ou modificações genéticas. A injeção intravítrea é um dos procedimentos mais simples em oftalmologia”, destacou Nie. A pesquisa, financiada pelo National Eye Institute (R01EY030569) e apoiada por programas internacionais, também contou com a colaboração do professor Jonghwan Lee, da Escola de Engenharia da Brown, e outros pesquisadores, como Kyungsik Eom, da Pusan National University.
Apesar do potencial, os pesquisadores alertam que mais estudos são necessários antes de testes clínicos em humanos. A segurança a longo prazo e a eficácia em cenários mais complexos ainda precisam ser avaliadas. No entanto, a biocompatibilidade das nanopartículas, que não apresentaram efeitos adversos em camundongos, é um indicativo positivo. “Essa técnica pode transformar os paradigmas de tratamento para condições degenerativas da retina”, afirmou Nie, reforçando o impacto potencial da descoberta para os cerca de 170 milhões de pessoas afetadas por degeneração macular no mundo, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde.
A inovação também reacende o debate sobre o uso da nanotecnologia na medicina regenerativa. Publicações como a Nature Reviews Bioengineering destacam que nanopartículas, por sua capacidade de converter energia luminosa em sinais bioelétricos, podem superar limitações de dispositivos eletrônicos tradicionais, abrindo novas possibilidades para tratamentos de doenças visuais.
A pesquisa da Universidade Brown marca um passo significativo rumo a soluções menos invasivas e mais acessíveis para a restauração da visão, oferecendo esperança a pacientes com opções terapêuticas até então limitadas. Enquanto os próximos passos são planejados, a comunidade científica celebra o potencial das nanopartículas de ouro para iluminar o caminho contra a cegueira.
Fonte: https://www.brown.edu/
Por Andre Estoduto – Redação Portal Guavira