O lançamento do Plano Safra 2025/2026, anunciado pelo Governo Federal com um montante de R$ 516,2 bilhões, trouxe otimismo inicial ao setor agropecuário, mas também acendeu um sinal de alerta entre produtores rurais, especialmente no Tocantins. A Associação dos Produtores de Soja do Tocantins (Aprosoja Tocantins) expressou sérias preocupações com os juros elevados e o acesso restrito ao crédito, apontando que as condições anunciadas podem comprometer a viabilidade da produção agrícola em um momento de desafios econômicos e endividamento crescente no campo.
O plano, que amplia o crédito em relação ao ciclo anterior, destina-se principalmente a médios e grandes produtores, com foco em custeio, comercialização e investimento. No entanto, a Aprosoja Tocantins destaca que uma parte significativa dos recursos, cerca de R$ 185 bilhões, será captada por meio de Cédulas de Produto Rural (CPR) lastreadas em Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), instrumentos privados com taxas de mercado não controladas. Isso reduz o volume de recursos com juros subsidiados em 17,3%, deixando os produtores dependentes de financiamentos mais caros. Mesmo os valores controlados, que cresceram 5% nominalmente, representam uma queda real de 0,32% quando ajustados pela inflação dos últimos 12 meses.
Para os produtores tocantinenses, que enfrentam custos de produção em alta e oscilações climáticas, a elevação das taxas de juros — que variam de 8,5% a 14% ao ano — torna o crédito rural praticamente inacessível. “O cenário atual já pressiona nossas margens, e esses juros elevados podem inviabilizar investimentos essenciais, como a modernização de equipamentos e a construção de armazéns”, alerta um representante da Aprosoja Tocantins. A entidade também critica a obrigatoriedade do cumprimento do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc), que, segundo eles, muitas vezes não reflete as condições reais do campo.
A associação havia sugerido medidas como a ampliação do Programa de Construção de Armazéns (PCA) para R$ 9 bilhões, com condições facilitadas para pequenos e médios produtores, diante do déficit de armazenagem na região. Contudo, o governo destinou apenas R$ 3,7 bilhões para estruturas de até 12 mil toneladas, com juros de 8,5% ao ano, e R$ 4,5 bilhões para armazéns maiores, a 10% ao ano. Essa discrepância reforça a percepção de que o plano prioriza grandes players, deixando os médios e pequenos produtores em desvantagem.
Com a safra em curso e a necessidade de planejamento para o próximo ciclo, a Aprosoja Tocantins defende uma revisão urgente nas políticas de crédito. “Precisamos de condições justas e acessíveis para que o produtor rural possa continuar produzindo alimentos e contribuindo para a economia do país”, enfatiza a entidade. Enquanto isso, o setor acompanha de perto os desdobramentos, na esperança de que o governo ajuste o plano para atender às reais demandas do campo.
Redação Portal Guavira