A redefinição da ordem global — com o enfraquecimento do multilateralismo, tensões entre grandes potências e uso político de sanções econômicas contra países — foi o ponto de partida da audiência pública promovida nesta terça-feira, 23/09, pela Comissão de Relações Exteriores (CRE).
Na avaliação de participantes do debate, o Brasil deve definir um plano estratégico para se reposicionar nesse cenário global em ebulição.
A senadora Tereza Cristina (PP-MS), que é vice-presidente da CRE, reforçou a avaliação de que o Brasil perde oportunidades no cenário internacional por falta de continuidade estratégica.
“Não podemos viver apagando incêndios. A polarização política deixa na sombra temas fundamentais. O Brasil hoje sequer consegue liderar a América do Sul. Tivemos no passado uma política ativa com a África, que foi abandonada, e perdemos espaço”, disse a senadora.
Convidado a falar aos senadores, o presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice), Rubens Barbosa, defendeu que o país elabore um documento nacional de referência para orientar sua posição no mundo, com visão de médio e longo prazos.
O debate foi convocado a partir de requerimento (REQ 15/2025 – CRE) do presidente da CRE, senador Nelsinho Trad (PSD-MS), que ressaltou a urgência do reposicionamento do país no contexto internacional.
” Vivemos um momento singular de transição na ordem global. Os objetivos nacionais definidos na Constituição (soberania, desenvolvimento e segurança) devem ser perseguidos com os meios e recursos disponíveis da forma mais eficaz possível”, disse Trad.
“O Brasil está precisando de projetos que sejam projetos de Estado; não pode ficar nessa insignificância que hoje ele tem no mercado mundial”, frisou Tereza Cristina. “O Brasil não é chamado para todas as mesas. (…) E perde, de novo, na minha opinião, oportunidades”, acrescentou Tereza Cristina.
Documento estratégico
Rubens Barbosa, que foi embaixador do Brasil em Londres e Washington, explicou que a ausência de reflexão estruturada sobre o Brasil como ator internacional motivou a elaboração, pelo Instituto Irice, do texto Uma Estratégia para o Brasil – o lugar do Brasil no mundo.
O documento parte da constatação de que outros países — como Estados Unidos, França, Reino Unido, Japão, China e Índia — possuem relatórios oficiais com definições estratégicas, enquanto o Brasil se limita a diretrizes setoriais de defesa.
“Vivemos um momento muito delicado, tanto na economia quanto na ordem política. A globalização sofreu ajustes, a pandemia e as guerras mostraram vulnerabilidades, e hoje prevalece uma verdadeira lei da selva. O Brasil não tem um documento que reflita as prioridades e anseios internos e externos. Por isso, elaboramos esse estudo como provocação, para estimular o debate de forma realista, sem ideologias”, explicou o ex-embaixador.
O texto está estruturado em quatro capítulos: as transformações geopolíticas globais e o lugar dos países em desenvolvimento; os objetivos nacionais e as vulnerabilidades brasileiras; a inserção internacional desejada; e uma estratégia por regiões (América do Sul, Ásia, Europa e África).
Vários senadores abordaram a necessidade de o Brasil investir em ciência e educação como eixo de desenvolvimento; manter sua posição no ranking dos maiores exportadores de alimentos – o que garante segurança alimentar para o planeta – e retomar a boa interlocução com os Estados Unidos, além de manter relações equilibradas com nações como a China.
Informações: Agência Senado